quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Choque interior

Esqueci como se faz um belo e inapagável drama pessoal, deixei de lado momentos de tortura e autorreflexão. Parei de alimentar minha vaidosa e exclusiva solidão. Desacostumei o espelho a ver a minha imagem. Abri mão de algumas músicas, desapeguei de lembranças. Reverti papeis, desfiz certos hábitos, anulei instintos. Sucumbi diante do marasmo, barbarizei com os excessos, joguei no canto da sala minhas produções, paralisei meu ímpeto e coragem, guardei no armário o peito dilacerado, despoetizei, submeti, cedi. Fiz as pazes com a realidade, entretive-me com as novidades, voltei com a TV, socializei, não seletei.
Esqueci-me de mim.

Fonte da Imagem: Google.

3 comentários:

  1. O Eu te protege. E você se esquece. A harmonização é necessária, mas é inconsciente? Pare, mas não para sempre. IDe, não pares. Não por muito tempo.

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  2. O belo da poetisa é que poetiza ao despoetizar! Grande!

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  3. Como a rosa vaidosa e possessiva de O Pequeno Príncipe de Saint Exupéry, que com seus caprichos reinava impoluta em seu Planetinha, seu eu ocupa completamente o círculo negro de suposta interlocução, deixando parte da exclamação do lado de fora. Que espaço livre sobra para virtudes como o auto desprendimento e a disponibilidade neste balão em que o eu se esparrama todo?
    O choque é completamente previsível na volta ao mundo dos mero mortais.
    Marta.

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