O meu cigarro acabou, as velas se apagaram, a melodia que sai das caixas de som já não supre a falta, só me arrepia. Vou lhes contar como tudo isso começou:
A madrugada entrou pela janela, me deu "olá", jogou-se em minha cama, abriu o meu livro de cabeceira, lambeu e devorou cada página dele, aumentou o volume do som e me engoliu; sem sutileza, sem dó ou pudor.
Contorceu os meus órgãos, judiou da minha ingenuidade, me superestimou com palavras duras e me mandou escrever, me mostrou como interpretar o mundo e moldou o meu ser.
Próximo às 5:00h da manhã (como de costume) e já quase invisível: Ela me cospe! Joga-me na lama, me entrega de bandeja ao sono e vai embora - pela janela - com a promessa de que irá voltar.
Nomeia-me como "escrava", me manda obedecer, jura cortar os meus pulsos caso eu resista. Sem voz e sem vez, eu respondo com poucas palavras:
- Ah, madrugada, já não mando mais em mim. Sou tua!