quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Como comida

Aproxima-se a mim, Benjamim. Os teus cheiros me corroem, sabia? A tua fala me destrói. Como a tua pele me atrai, Senhor. Está tudo bem aí, contigo? Não sofra não, viu? Estou aqui para sarar as tuas feridas, para comer tuas comidas e beber da tua saliva. Me viva, me sirva, me cubra com tua pele em carne viva e me envergonhe em frente ao teu povo leal, fiel, são e guardião. Eu sou assim... Melancólica, dramática e simpática. Tenha dó de mim, me coma em silêncio e assim permanecerei diante de ti, Senhor. Mas seja meu, somente meu. E assim serei divinamente serva, eterna, paraplégica. Emocionalmente doente; servente. Exatamente como pretendes me deter: De forma visceral, dolorida, amarga, sofrida e consumida.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Frieza ferida

Eu sou-fria ao entardecer
Eu sou-fria ao anoitecer
Eu sou-fria por tamanha ausência e descaso
Eu sou-fria de natureza
Eu sou-fria por genética
Eu sou-fria a ponto de entristecer 
Eu sou-fria com a ferida exposta
Eu sou-fria desde que nasci
Eu sou-fria por todo esse tempo
Eu sou-fria a cada vez que te “revi” e que não te vi
Eu sou-fria porque permitisse que vivesse sem ti
Eu sou-fria, por que não telefona pra mim?
Eu sou-fria pela tua voz que não ouvi, antes de dormir e depois de cair
Eu sou-fria em todos os meus aniversários
Eu sou-fria por você
Eu sou-fria, ainda mais, por não sofreres por mim. 



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Talento pra ser feliz

Sou cobrada desde muito pequena sobre encontrar essa tal de “felicidade”. Ai, que medo que tenho dela. Onde ela mora, no amanhã? Pra que diabos se esconde tanto? Vejo a efusividade alheia, todos se mordendo de raiva porque não a encontram, outros estuprando as emoções e as fazendo de um saco plástico, vazio. Buscam, buscam, buscam e caem no abismo da superficialidade, permitem-se a frustração: “É, felicidade deve ser isso.” Eu trago a impressão que não.  Apenas “achismo”, obvio, mas acredito que ela está aqui hoje: Na saúde, no prato cheio de comida, nas vozes sublimes que saem pelas caixas de som cantarolando canções de “ser feliz”, no amor bem feito e sem pressa, na cama quente que nos permite abrigo às noites, dentro das garrafas de vinho-seco – que trazem risadas e sensações fervorosas -, na gargalhada dos amigos, numa boa companhia confiante e que faz-nos transbordar; num banho gelado dos pés à cabeça, no abrir as portas para pessoas queridas e, sobretudo na esperança que sufoca-nos dia e noite. É, uma velha amiga! Permite-nos sorrir depois de algumas longas horas de choro e lamentações, acorda-nos com bom humor para seguirmos com as nossas obrigações diárias. A esperança, meu caro, nos move e somos assiduamente dependentes dela, é a partir desse encontro que achamos a nossa felicidade. Isso, “nossa”, porque felicidade é mais uma das conquistas individuais. Ninguém a trará para nós, entregue nas mãos, ela já está conosco, perdida entre o coração e o cérebro, aguardando ansiosamente para o bendito dia que se mostrará para o seu dono.  

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Nenhuma alternativa além de Ser

Há quem não suporte a dor de existir. Basta “Ser” pra saber o quanto dói. Suportar seus próprios defeitos, o mau humor, sentir a pele em carne viva nos momentos de desespero, tentar fugir daqueles pensamentos mesquinhos que julgamos não nos pertencer e automaticamente não conseguir se mover. Decidir subitamente ter outra atitude diante de uma monótona situação, enquanto sua essência e o seu interior gritam: NÃO! VOCÊ É “DAQUELE” OUTRO JEITO, QUERIDINHO (A). FAÇA O QUE EU DIGO. E lá estaremos nós, agindo exatamente do nosso jeito, único e inevitável.

É chegado o momento em que resolvemos sentir o tão famoso – na teoria - amor próprio, respeitamos os nossos sentimentos, cedemos a desejos que não nos tire a edificação, e nos reconhecemos frente ao espelho. Abrimos à boca e gargalhamos nossas risadas, choramos nossas lágrimas e cheiramos o nosso próprio odor (natural).

“Experiências são intransferíveis”, já diria um professor que tive. A mãe é minha, o irmão é meu, e essas unhas aqui... Também. Os meus olhos não são iguais aos seus e nunca serão, sabe? A cor, talvez. Mas a pupila, o brilho e o que eles dizem são detalhes única e exclusivamente meus! Você ao menos imaginará o que sinto, por onde ando o que penso e para onde vou e isso me torna explicitamente individual, por isso somente eu sei quem sou literalmente e vice-versa. E me conhecendo tão bem...

Eu sei que sou alguém.