segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Falecimento

Hoje eu senti o peso do viver
Hoje eu carreguei nos ombros caixas de tormento
Hoje eu molhei as bochechas com a tristeza do universo
Hoje eu comi o pão que o diabo amassou
Hoje eu caí no abismo, encontrei com Jesus
Hoje eu toquei feridas abertas, sangrando
Hoje eu não vi o céu, o mar, o amor
Hoje eu vi caos, trânsito, rostos inexpressivos
Hoje eu excedi na dose de cafeína
Hoje eu não sorri para ninguém
Hoje eu cantei a pedra, maldisse a existência
Hoje o meu grito teve som de mudez
Quão inúteis são as palavras?
Qual indivíduo não se contradiz?
O que é a confiança?
Existe um ônibus que nos leve ao final de linha da dor?
Não pertenço a lugar algum
Sou o desfalque da civilização
A aberração vestida de carne e osso
Sou a pureza desnutrida
A esperança estrangulada
Sigo na contramão
Sou a rua sem saída e sem lixeira
Sou o peixe se contorcendo na areia
A explosão do planeta
O palhaço sem graça
O desânimo em demasia
Hoje eu morri
Para Deus e o mundo.