quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Estamos sempre lúcidos 
e é sobre você que eu quero falar 
estamos sempre atentos
há líquido, há suor
há tanta vontade
Há tantas improváveis certezas
mas há carinhos e belezas
e eu já não sei onde parar
É um ponto, é uma ponte, é um sonho,
um filme, um quadro, um terço da metade 
do desejo que chega, e não vai;
quando vai não se despede
pois há de exalar, não é tormento não, 
é emoção, contradição e invasão 
e vai e vem.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

desejo

A gente gosta de querer
Bem querer
O querer de querer 
Quero você, querer
De mim, o melhor
E tudo mais
Que vem
de dentro
E escorre
Massageia
Grita 
Goza.




Fonte da imagem: Google.

quando ela era

O tempo passou sobre ela. Não! O tempo passou esmagando a sua cabeça, passou por cima, feito a onda que atravessa as pedras. 

O cansaço havia tomado conta do seu corpo, ela não queria saber de ver, ouvir, dizer: ela não queria saber de levantar-se. 

Queria comer a inércia, beber o ócio, cuspir seu próprio suor. 
Ingênua menina! Achara que tinha enlouquecido, não lembrando que a vida, mesmo descabida e incontrolável, estava somente no início. "No início do quê?", ela se perguntava. "No final de quê?", não se conformava. 

Era uma espécie de troca de pele, um tipo de ressurreição, uma loucura explícita, um choque de realidade. 


Um choque. Uma intuição. Um recomeço.

Um pressentimento ou era apenas tristeza. 
Ela não sabia o que era nem sabia contar, mas sabia ler e lia - pra conseguir respirar.

sábado, 23 de abril de 2016

mais do mesmo

O sentimento que me toma agora é esse silêncio cru, o azul do luto que não irá sarar. É essa imagem de zebra psicodélica que assombra meus passeios mentais, junto ao suor frio sem alguma excitação. O desespero que me rege no momento é essa lamentação contínua, não colorida, enraizada pela indignação e falta de localização. Não me conformo. É como se, diariamente, precisássemos parir a nós mesmos e eu não quero saber de me parir - nem de partir. Para onde parte o pranto e os olhos seus que não verei mais num outro tempo? Para onde vai a voz que o mundo esfomeado ouvia? Eu não sei me comunicar em um meio onde você não respira, não sei lidar, contudo eu lido, e não quero. Não dá para explicar para a frustração o excesso desse egoísmo torpe e inútil - ela que se vire! De costas, de lado, de frente ou de bruços: o nada ainda é o mesmo. E fere!


 Fonte: Google.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

só minha

Não nasci, levantei vôo. Não engatinhei, apalpei o chão. Não falei uma mera-palavra, pus no mundo uma voz ativa. Não chorei, derramei lágrimas de emoções intensas. Não sorri apenas, mas senti o milagre da existência em minha consciência. Não sou mulher, sou milhares. Não sou careta, sou vulcão.

 
Fonte: Google.

sexta-feira, 11 de março de 2016

por um triz

Era março de um ano qualquer e ela acordou pronta.

Não tinha maquiagem em sua pele, sequer roupa em seu corpo que teimava em suar, era a esperança personificada; olhos tristes e ombros pesados, a mente borbulhando e o peito (onde havia desejo) estava sem fôlego. O desejo que habitava nela era o de continuar a viver.
Embora as teorias existencialistas fossem seu travesseiro noturno, a incerteza sobre o sentido da vida era o seu maior aconchego, era o seu berço. E a impossibilidade da duvida lhe causava dor, a inexistência da dor, alimentava o desespero. Eis então que o sentido era justo esse, continuar: abrir os olhos, respirar, ver-se frente ao espelho. Sentir seu sangue correndo pelas veias e o coração palpitar, tornou-se seu absoluto objetivo. Eis que a descoberta dos dias que surgem - e chegam - é a explícita felicidade. A felicidade estava canalizada em permanecer viva e ativa.

Descobrira ainda jovem que não há outro caminho, senão, o de caminhar.

...

Fonte da imagem: Google.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

eu passarinho

Posso perder o tino, a voz e a razão
perco as chaves, o humor, o abstrato
perco o sono, a elegância, o barato
mas não posso me perder
não de mim;
eu só existo 
onde me acho.

Rascunho de palavras mortas

imploro escrever 
pra mim, de mim
por mim
de onde 
eu vim
é decadente 
o abismo 
da falta 
de palavra
que não salva
o mundo, 
mas embeleza
a banalidade
humana
mente
e destrói
a corrente
jornada
do dia
dia que
não vai
nem vem
pra cá
de definir
o estar
de ir
embora 
eu goste
daqui.

Barulho de ser

Estou fadada à turbulência. Não tenho uma alma simples e corrigível, pelo contrário, ela se reinventa o tempo todo, se modifica, complica. Estou fadada a não-obediência, minha mente se excita com a exploração de ideias e novidades. Sou aquele carro na contramão, aquele avião caindo, o navio afundando. Estou sempre à beira de mim mesma, sendo vítima e autora de explosões constantes. Talvez esse seja o meu caminho de sobrevivência ou a minha zona de conforto - não sei. Nunca hei de saber nada mesmo e quando penso que sei é quando eu minto pra mim mesma. 

versão

Quando eu não mais precisar de aceitação, tudo fluirá
quando aceitarem, sem reservas e restrições, os traços da minha face,
da minha carne viva, correrá o tempo
quando os meus passos tornarem-se agradáveis aos seus sentidos
eu vou lá pra fora, respirar em paz
quando eu chorar pedindo pra não ser visível, fará sentindo, então
quando não for mais preciso esforço, tanto esforço, vai aliviar o peso
desde que nasci, berro
clamo
por um pouco de empatia

cansa, viu?
arranha.

Caminho de a-mar

E a gente se dá conta, qualquer dia desses, que o amor não é aquilo que disseram. Também não é aquilo que pensávamos, muito menos isso aqui ou ali. É de outro jeito, é outra coisa, é mais e menos, é mundo particular, é principalmente o abraço estalado. O amor é fechamento de clico, é pôr líquido no buraco vazio do existir que só sabia de secar. Pode durar um dia ou uma hora, mas acontece no agora. É também o socorro pro tédio, a fantasia finalmente se realizando, é tipo colo de deus.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Ranço

Quero o champanhe, cansei do vinho. Quero o dia, cansei da noite. Quero a nudez, cansei do moletom. Quero o chá, cansei do café - dolorosamente. Quero a sobriedade, cansei da insensatez. Quero o divino, pois o diabólico me esquartejou. Quero dar porrada, já que apanhar me calejou. Quero o mar para navegar, cansei de nadar em você. Quero a plena melodia, cansei das letras frias. Quero a invasão de corpos, almas são cansativas demais. Quero poluir, desnutrir, planejar, racionalizar - deixar guardadas as emoções. Quero o outro lado, o oposto, o não, o bárbaro. Cansei do aqui, do sim, do fresco, do desejo. Cansei de ti, cansei de sentir.

É possível ter uma folga de si?

terça-feira, 21 de julho de 2015

a gente é bicho

A gente nunca é o que parece. A gente é sempre mais, ou menos, ou porra nenhuma. A gente pertence ao mundo, a algum lugar do céu e, na maioria das vezes, à gente mesmo. A gente convence senhores, mas nunca as crianças - elas são donas da fantasia, da loucura explícita e legítima, da filosofia e da arte nua e crua. A gente faz o que a TV manda, obedece ao dinheiro e ainda descarta emoções reais, porque a gente prefere bater papo via WhatsApp (é mais fácil e não dói nada!). A gente não é bicho-do-mato, a gente é bicho-do-shopping. A gente é limitado mesmo, errante, soberbo, mortal.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

quereres

Eu quero o teu personagem 
em cima do meu palco
A tua pintura, na parede da sala
A tua chuva, no meu jardim morto
Eu quero a tua esquizofrenia exalando 
Pelo meu consultório 
e cama
Quero também, meu bem
O teu caos cuspindo 
o meu rosto moreno
Preciso da tua ideia, montagem e criação
Esperarei por tuas fraquezas
Lamentarei por tuas perdas
Estarei aqui: no teto, no vão, no chão
Por todos os lados
E cantos baianos
Abraçarei tua subjetividade
Justificarei tua loucura
Darei nomes aos frutos
Serei nua
Toda tua
Essência.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

amor-tecedor

De lá pra cá, de sol a chuva
De lua em lua
Ele fica cru, as vezes torrado
Eu não sabia que ia ser pra tanto
Quanto líquido!
É que me incomoda esse descontrole, esse apelo torpe
É como ver a cerca, entrar na gaiola
Contraditoriamente libertador - já que voo distante
É como ter centenas de poesias na ponta da língua
E ter o cheiro de todas as flores do mundo, no nariz
É como morrer afogado ou desaprender a respirar (falta ar!)
É sanidade louca e também uma loucura sensata
É despejar calor e aturar o frio
Ora desesperador, ora confortante
Ora apaziguador, ora turbulento
Desigual, imoral, tolo
ambivalente
Não sabe-se qual hora 
Vai embora, vai
Mas volta
E aflora.


Fonte da imagem: Google.

Que dirá?

Talvez eu só precise da leveza que você me traz. Talvez eu só precise de um carinho torto assim, talvez eu nem precise viver, é loucura demais. Talvez isso desapareça ou não floresça nunca mais, talvez eu me dê conta, peça a nota, tire a prova e volte atrás. Talvez eu desapareça ou entorpeça de solidão, talvez eu enlouqueça nitidamente com a aproximação, talvez eu corte, talvez force ou desanime, talvez eu entorte a boca e feche a cara, talvez eu morra - ou viva - à espera da libertação. Talvez eu seja invisível, senão, transparente demais, talvez eu não sirva para o seu pé ou não te desarme. Talvez eu cresça, talvez eu mude, talvez o tempo passe e eu me cure.