Eu gosto daquele texto que me deixa de cabeça pra baixo. Tanto
quanto gosto daquela música, e daquele jeito, e do seu beijo. Eu gosto de
quando fico sem ar, e sem chão e quando sinto suor nas mãos. Eu entorto a
cabeça, reviro na cama, mordo os lábios, me destroço em imaginações. Desejo a
utopia jamais alcançada, a fotografia certa, o toque áspero e surreal. Espero a amizade
dos livros infantis, que - como imãs - as vítimas se derramam e se deleitam na
tenebrosa arte de entregar-se. Finjo que supero essa loucura terrena, diária e dramática
buscando consolo em filmes e amando, idolatrando, respirando Palavras. E gozo.
Gozo o desprazer do real, mastigo velhos hábitos na tentativa de alimentar os meus
vícios e tento não me deixar morrer. Me deixar morrer seria fatal, a crueldade
em sua essência mais bem representada. Pareço coerente, mas careço de
equilíbrio, me jogo dia a dia num novo precipício, não me contenho, não me
abstenho, não recalco; é um roteiro suicida, inexplicavelmente interessante. Deliro, retomo a sanidade, entorpeço, caio em êxtase, regresso, dou um passo, retraio, balanço, rodopio, contorno, penso, sinto, existo.
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