quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Passos leves

"Abstrair" é um jeito disfarçado de engolir sapos. Uma expressão mais leve, até! E sabe, eu descobri que pratica-la é tão válido e útil para se viver melhor, sem muitos pesos desnecessários nos ombros ou lembranças inconvenientes na memória. É esquecer aqueles pensamentos "cricri", não levar em conta comentários de terceiros (tão insignificantes, coitados!) e relevar decepções vividas no cotidiano - principalmente de pessoas que amamos. Convenhamos, abstração não é uma tarefa fácil, tratando-se dos mais sensíveis então, é quase uma loucura, porém é um exercício satisfatório, resultante: Evita as brigas, diminui a intensidade dos remorsos, descomplica as relações, para com as dores de cabeça e aumenta em 50% o bom humor. Não, eu não fiz nenhuma pesquisa estatística, mas se você tem alguma dúvida, tenta! Respira fundo, dá um sorrisinho e... Abstrai! 




terça-feira, 16 de outubro de 2012

Novidades

Vontade de ver os planos se concretizarem. Anseio pela colheita das minhas sólidas plantações. Ando semeando sim, consciente, esperançosa, encorajada. Preciso de respostas positivas sobre tudo que desejo concluir previamente. Que os ventos soprem na direção adequada, que o universo conspire a meu favor e o meu espírito internalize a energia pura, limpa, fértil. Minha alma tem a terrível mania de absorver o que os meus olhos reconhecem, o que o meu coração filtra e o que as minhas mãos tocam, necessito de toda transparência, delicadeza e verdade para ultrapassar mais um nível nessa trépida fase existencial. 

Autossabotagem

Toda essa tragédia disfarçada de alegria me causa um insistente prazer. 
Digo, a mágoa e toda a desilusão permanecem intactas, mas algo de muito satisfatório toca à minha essência. Sou crucificada pela minha consciência e ainda assim tiro proveito disso (contraditório, não?). Interpreto uma perplexidade constante de mim mesma. E juro, eu ainda não me diagnostiquei; seja isso talvez que me salve do medroso-desejo de não alcançar o meu próprio fim, à minha destruição, o caos, a fossa terminal. Respeito-me agora, deixo para compreender-me depois, quando já não houver mais voz nem sentido. Sou rebelde por natureza, enfrento as tempestivas oposições, sobrevivo e sigo. Quem mais provará o sabor de ser eu mesma toda vida? Somente eu! Que seja eu então a minha escrava, a serva do meu absoluto egocentrismo. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sen tir

Sinto que está indo embora 
Sinto que está perdido
Sinto que nunca me esquecerá 
Sinto que não me deixará ir
Sinto que precisa de mim
Sinto que precisa mais de si
Sinto o que minha intuição me diz
Sinto o seu coração bater
Sinto a sua respiração entrar em mim
Sinto cócegas ao pensar em ti
Sinto ódio ao tentar te perder
Sinto excitação por te ter aqui
Sinto incômodo por me possuir 
Sinto buracos no peito ao te ver partir 
Sinto prazer em não mais te engolir
Sinto a saudade esfolar
Sinto a cura no momento em que te soltar
Sinto, sinto, sinto demasiadamente...

O-missão

Tão razoável e repetitivo esse teu discurso. Tão rasas e superficiais essas tuas infinitas promessas. A minha transparência atravessa os vidros dessas janelas. A minha integridade passa por cima da sua carência patológica e os meus ouvidos não se saciam mais com tamanhas inverdades. Existe toque, calor, amizade, planos envolvidos, no entanto o medo que agora sinto é o que prevalece. Noites mal dormidas, fantasmas durante o sono e a angustia vez ou outra vêm me dizer “alô”. Enquanto você me jura pontes e viadutos eu só quero “certezas”, enquanto você se esforça para ser genial, eu só quero palavras sinceras; enquanto você se desespera por provas, eu só quero encontrar a paz. Sinto-te inteiramente, mas não “me” sinto mais. Estou sentada no “famoso” muro, de braços cruzados, cheia de esperança e dor e medo e desejo e mágoa, a propósito, guardo ela direitinho. E o tempo passa, sem parar, o que está vivo se restabelece e o que você matou – de forma tão cruel – permanece debaixo da terra: Ileso, como se nunca tivesse existido. Não sou dura nem tão realista assim, é que a minha consciência teima em fazer escândalos para me mostrar a racionalidade, sendo eu tão sonhadora. A minha memória insiste em trazer à tona a dor, que de vez em quando dorme ou sai pra passear. E para não me igualar as tuas fraquezas eu preencho o peito com escolhas que mesmo tão efêmeras me passam uma falsa-confiança e me permitem ao menos respirar e andar, até mesmo em cima do tal muro. 

"Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã."

Drummond 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Nós

Chegar perto do que me parecia inalcançável me tirou o gostinho de quero mais. Você me desmaqueou, me apalpou, desvendou o que entre nós eram apenas frutos da imaginação. Então eu me pergunto: É melhor assim? De perto, às claras, sem mistérios e trocas de declarações nas entrelinhas de cada texto escrito? Toda aquela subjetividade trazia mais gozo? Talvez. Também gosto da continuação do que, inevitavelmente, criamos... Gosto de poder te olhar nos olhos, te escrever diretamente, dividir o mesmo copo, apreciar o seu belo, belíssimo, sorriso. Aquela sensação está aqui ainda, cheia de gás e muito mais nítida. Com a luz assim, acesa, pude perceber - não sei se de forma tardia - que é ainda mais gostoso ver você. 

Oração ao universo

Que eu seja sempre a melhor, mesmo que para mim. Que eu vista sempre o confortável, mesmo que aos meus próprios sentidos. Que eu coma o mais saboroso das opções e satisfaça inteira e excessivamente o meu paladar. Que eu deguste do melhor vinho, branco ou tinto, seco ou suave. Que ter o meu próprio amor me baste para não precisar mendigar o amor-alheio, mas que eu não perca a sensibilidade de receber o amor do próximo. Que as minhas próprias palavras acalantem o temor de existir e que eu não precise nunca da aprovação do outro para me sentir especial/peculiar. Que eu não perca o bom senso nem que por alguns segundos e que o bom gosto continue sendo o meu severo aliado. Que eu saiba diferenciar os sentimentos, as emoções e os desejos absolutamente efêmeros para não me perder no abismo torturante da falta de compreensão. Que pelo menos metade dos meus planos e desejos se realizem. Que não me falte livros, café, vinho, cama, pernas entrelaçadas, diálogos, palavras e música, nunca. 


Amém.