quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Madrugando

Qual botão eu aperto para que cesse a tortura? Estou suportando há tantas horas...

O meu cigarro acabou, as velas se apagaram, a melodia que sai das caixas de som já não supre a falta, só me arrepia. Vou lhes contar como tudo isso começou: 

A madrugada entrou pela janela, me deu "olá", jogou-se em minha cama, abriu o meu livro de cabeceira, lambeu e devorou cada página dele, aumentou o volume do som e me engoliu; sem sutileza, sem dó ou pudor. 

Contorceu os meus órgãos, judiou da minha ingenuidade, me superestimou com palavras duras e me mandou escrever, me mostrou como interpretar o mundo e moldou o meu ser. 

Próximo às 5:00h da manhã (como de costume) e já quase invisível: Ela me cospe! Joga-me na lama, me entrega de bandeja ao sono e vai embora - pela janela - com a promessa de que irá voltar.

Nomeia-me como "escrava", me manda obedecer, jura cortar os meus pulsos caso eu resista. Sem voz e sem vez, eu respondo com poucas palavras: 

- Ah, madrugada, já não mando mais em mim. Sou tua!




2 comentários:

  1. Me surpreende cada vez mais...

    Seu eterno fã!

    ResponderExcluir
  2. Já estive em desertos de várias partes do planeta. É encantador. É singular. Inesquecível.
    A noite e a madrugada a dentro é um convite à contemplação.
    Admirar o brilho das estrelas induz a pensamentos mágicos.
    Os olhos fixam no cintilar e o amor à criação é indefectível.

    Mas no deserto os camelos são os maiorais.
    No Egito e em Israel tive que aprender como lidar com estes animais.
    Tanto para os conduzir, como para neles montar.
    E a primeira orientação é mostrar para seu camelo quem manda.
    Caso contrário, fica-se refém da rebeldia e insubordinação do camelo.

    Com a madrugada, é a mesma coisa.
    Não é a madrugada que a escraviza, mas é você quem se presta como refém.
    Não é ela que lhe obriga a ficar acordada, mas é você que elege não dormir.

    Se é desse jeito, não há queixas cabíveis.
    Só escolhas e permissões.
    Então, aguente...
    Marta.

    ResponderExcluir