quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Armas em outro contexto

Só é capaz de sentir o sabor da conquista aquele que alcança lugares ainda não visitados, desertos e profundidades do outro. Não se conquista, intensamente, outro Ser, quando não se está disposto a explorar, cutucar novidades, observar atributos e compartilhar complexidades. A superficialidade é exposta e óbvia para todos, mas o interno, o não dito e esquisito é o caminho de difícil acesso e o lugar mais gostoso para manter duas almas em pura e excitante conexão. E é um tipo de atividade irreversível, pois essas almas jamais voltarão ao estado anterior depois desta inesquecível experiência, acontece todos os dias com incontáveis pessoas por aí, mas não com quaisquer pessoas: É necessário aptidão, disposição, afeto, sintonia, desejos, idealizações, coragem e troca de olhares - muitas trocas de olhares, tato e uma sensibilidade descomunal para que a comunicação não falhe, não se perca ou se frustre. Estabelecer uma conquista como essa é no mínimo atormentador; mal se come, mal se dorme, mal há reconhecimento de si próprio, é digno de se perder o tino, a voz, o consciente e desequilibrar a estrutura. É o perturbador espírito do prazer, uma viagem sem previsão de volta, um ardor, odor e dor chocantes, a verdadeira pulsão e transmissão de energia.
É encontrar semelhanças e, impulsivamente, perder-se em si. 


Fonte da imagem: Google.

2 comentários:

  1. Algum filósofo, triste, caminhou por tais profundeza, e lá, garante, não há nada de consistente. A existência, por si só é vazia. O que fazer diante disto? E se descobríssemos que até a pulsões, as energias, sinergias, significados e todo o resto, também são artifícios? E se descobríssemos que de lugar nenhum haverá resposta? E se nossa gagueira continuasse e o mundo acabasse, justo quando o pior impasse, estivesse por ser resolvido na forma de um belíssimo verso? O outro pode ser a coisa mais grotesca que uma alma solitária pode porventura encontrar, precisamente pelo fato de que no mais das vezes o outro é espelho. Não só por refletir a nossa própria imagem, mas por ser frágil o suficiente para, no primeiro percalço, cair e quebrar simultaneamente a si e a seu próprio reflexo.

    ResponderExcluir
  2. Até um mergulhador profissional e habitual tem que tomar algumas precauções e seguir importantes regras para ir mais fundo e voltar da aventura do mergulho em segurança. A não obediência a essas regrinhas pode ter consequências desastrosas. Imagine mergulhar no outro criando expectativas ou fantasias. A frustração e a decepção serão riscos que estarão em um lugar não visitado e a ser conquistado.
    Se valer o fascínio desta aventura, vá fundo...
    Marta.

    ResponderExcluir