terça-feira, 18 de setembro de 2012

Regeneração

Estou em meio ao caos, catando os tijolos espalhados pelo caminho para reconstruir o meu altar. Em silêncio e em transe eu passeio em meio aos outros, temendo a visibilidade. Mais do que em qualquer outra fase prezo pela transformação, nudez da alma, rasgo do coração, contorcer dos órgãos...  Olho para trás e sinto uma angustiante saudade da utopia de outrora, tão lúcida e imoral, obesa (religiosamente alimentada), arrotando letras que impressionavam a poesia, invejando-a, sempre querendo alcança-la. 
Ouço Chico, leio Fernando Pessoa e a inquietude aumenta, excito-me a cada arrepio que eles me provocam, estou sedenta da mais pura, crua e nua literatura. Não escrevo para sarar, escrevo porque dói e a dor me provoca o prazer que a minha indignação carece, já que a falta de dor causa-me enlutamento. Lágrimas e gritos já não suprem, pranto é só uma questão de estado e eu almejo mais estabilidade; quero que as palavras tapem os buracos, cessem o mau cheiro dos esgotos, as imperfeições, quero que elas vistam o mundo como se ele estivesse indo a um grande espetáculo, apresentar-se. Quero mastigar esta hipocrisia barata, pintar esta parede sem cor, ressuscitar à arte. O vento-de-mudança se aproxima, está em constante ameaça, soprando corriqueiramente. Estou no aguardo do empurrão inabalável, do Tsunami que irá cobrir impiedosamente o meu ser.  

Um comentário:

  1. CONSTRUÇÃO de Chico Buarque.
    DESASSOSSEGO de Fernando Pessoa.
    O CHEIRO DO RALO com Selton Melo.
    Música, poesia, filme trazem as necessidades existenciais do ser humano e a urgência da realidade prática em ser atendida.
    Muitas vezes é esta última a que é providenciada em resoluções que atropelam e esmagam o ser que ali agoniza e/ou padece.
    E a vida tem que continuar:
    O sinal abre. O dia amanhece. O cheiro seduz.
    A regeneração do cotidiano está em andamento.
    Marta.

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