segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Reflexo

Gosto de me ver assim, à meia luz. Gosto desse reflexo tão misterioso - até para mim. Essa estranheza própria me excita: existe uma comunicação profunda entre o que vejo e o que realmente sou. Gosto de lábios sedentos e desse jeito de permanecer entreabertos e também dessa expressão de dúvida e desse olhar narcisista. Gosto do quarto escuro, do silêncio e desse cheiro de ambiente-fechado misturado ao perfume-próprio de quem dorme nele; gosto dessa introspecção diária, desse aborto necessário e - confesso - meio doentio. Acho mais interessante enxergar-me quando ninguém mais está olhando, é uma maneira de "comer a si com os próprios olhos". Gosto de conter a minha própria insatisfação, analisar minha própria alma e sentir o meu próprio gosto - e desgosto. 


 Fonte da imagem: Google.

Um comentário:

  1. Elucidativo e sedutor esse jogo de luz e de sombra, do quero e não quero, da dúvida e da vaidade. Toda esta natural ambivalência em que o auto conhecimento está envolto mexe com o imaginário. Às vezes causa estranheza precipitando o aborto do que se julga que não serve mais. Outras vezes traz o desejo de ser visto pelo próprio olhar, já que o olhar alheio pode implicar em alguns riscos. Mas isso se prolonga só até que surja o espaço e o tempo para o novo nascer. E o tempo é uma ilusão. O espaço é um ajustar-se ao que está disponível. Fique atenta, mas sem muita pressa. No final tudo dá certo!
    Marta.

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